(Matéria publicada no jornal A Semana, 25/06/2016 e também no site OnLiterário)
No último sábado, dia 18, a casa de dublagem UP Voice de
Campinas realizou o UP Talent — premiação dos dubladores, tradutores e
diretores de dublagem que se destacaram em 2015 e começo de 2016. As categorias
eram dublagem infantil, dublagem mirim, voz caricata, comédia feminina, comédia
masculina, drama feminino, drama masculino, narração, tradução e direção.
Concorrendo com outros 14 profissionais, o paraguaçuense Vinicius Tomazinho
levou o troféu de melhor tradutor. Abaixo, ele fala para o jornal A Semana um pouco sobre o prêmio e seu
trabalho, confira:
Vinicius, o que
representa esse prêmio para você?
Este prêmio representa 10 anos de muita dedicação e
empenho, ou seja, toda a minha carreira como tradutor até agora. É muito legal
a UP Voice ter tido essa iniciativa de premiar seus destaques, primeiro porque
não é toda empresa que faz isso e segundo porque se trata de profissionais que
trabalham nos bastidores e não aparecem na tela. No caso dos dubladores, vai ao
ar somente a voz deles. E, no meu caso, o espectador só ouve o que eu escrevi
para o dublador falar.
Fale um pouco sobre a casa
de dublagem UP Voice de Campinas.
A UP Voice faz a dublagem, ou podemos chamar também de
versão brasileira, de programas da FOX, FOX Life, E!, TruTV e National
Geographic. É uma empresa relativamente nova, tem quase dois anos de
existência. Mas todos os seus funcionários e, sobretudo, o CEO, Roberto
Ciantelli, são bem experientes. E isso fica evidente na própria dublagem que
vai ao ar.
Como você começou a
fazer tradução para dublagem?
Quando falo que sou tradutor de programas de TV, muita
gente confunde e acha que sou o dublador. Na verdade, o dublador é um ator
credenciado que empresta sua voz para o personagem. O meu trabalho é pegar
todas as falas em inglês e adaptar para o português. Digo “adaptar” porque
muitas vezes é o que acaba ocorrendo, principalmente com piadas, trocadilhos e
outras situações que não ficam legais se traduzir ao pé da letra. Então,
resumindo, eu escrevo o que o dublador deve falar.
Voltando à sua pergunta, eu fiz faculdade de Tradutor na
UNIVEM, em Marília. Curso já extinto, infelizmente. Em 2005, no último ano do
curso, havia a matéria de tradução de mídia. Nessa oportunidade, eu aprendi a
fazer legendas e a tradução de dublagem. No fim daquele ano, minha professora
Thelma Nobrega nos levou para fazer uma visita à casa de dublagem SP Telefim,
em São Paulo, onde ela trabalha até hoje. Depois disso, fiz um teste, passei e,
em 2006, comecei a trabalhar como tradutor. É uma empresa bem famosa
responsável pela versão brasileira do canal History e outros. E até hoje eu
trabalho lá. No começo, havia mais programas legendados do que dublados. Por
isso, durante uns 7 anos, eu só fiz legendas. Com o passar do tempo, quase
todos os canais optaram pela dublagem, e então fui obrigado a mudar o estilo.
E, de fato, são técnicas bem distintas. Hoje é muito raro eu fazer legendagem. Depois,
em janeiro de 2015, surgiu essa oportunidade de trabalhar com a UP Voice, em
Campinas. Fui indicado e adorei poder fazer parte dessa empresa com espírito
jovem e muita dinamicidade, tanto é que hoje a maior parte das traduções que
faço é para a UP Voice.
Como é fazer e qual as
maiores dificuldades desse tipo de tradução?
O que precisamos ter em mente é que, para uma dublagem ser
boa, ela tem que parecer o original. Então, se o personagem engasga, gagueja,
ri ou grita, o dublador também vai ter que fazer isso. Além disso, o tempo da
fala e o linguajar são importantes. Eu não posso escrever um texto enorme para
uma fala pequena, ou o contrário. Senão, vai acontecer o que vocês já devem ter
visto, alguém mexendo a boca várias vezes para dizer “olá”, por exemplo. Também
devo respeitar como uma criança fala ou um senhor de idade, por exemplo. Agora,
fora a técnica, a dificuldade que encontro é algum termo técnico, dependendo do
programa que estou traduzindo, ou alguma gíria. Por isso, sempre faço muitas
pesquisas em dicionários, no Google ou em sites específicos. Também julgo
importante consultar profissionais da área. Por exemplo, certa vez, traduzi um
programa sobre doenças infecciosas e tive que tirar algumas dúvidas com o
professor de Biologia Henrique Rosa. Mas isso é até corriqueiro.
Fale sobre os programas
que você já traduziu. Existem alguns conhecidos?
Para a UP Voice, eu já traduzi toda a temporada de “O Mundo
é dos Espertos”, a segunda temporada de “Dinheiro Sujo”, a segunda temporada de
“Fugidos do Caos”, alguns episódios de “A Família Busca Peixe”, todos do
National Geographic. Para o canal TruTV, eu já traduzi toda a temporada de
“Bartalha” e alguns episódios de “Animais se Comportando Mal”. Para a FOX Life,
já traduzi alguns episódios de “Undercover Boss” e “Kitchen Nightmares”. E,
para o canal E!, alguns episódios de “Project Runway”, “Stewarts and Hamiltons”,
“Made in Chelsea”. Traduzi alguns filmes também, mas não posso citar aqui
porque não foram ao ar. Mas aguarde, ainda há muitas novidades. Normalmente, eu
divulgo a estreia do programa no meu perfil do Facebook.