Prefácio à segunda edição
Ramon é um repórter muito competente que conhece as
exigências de sua profissão. Ele sabe que precisa gastar a sola do sapato e
frequentar as ruas, as delegacias e os hospitais, dentre outros lugares, para
conhecer os moradores e suas histórias. É assim que, desde os dezesseis anos, como
um verdadeiro detetive, ele colhe o material necessário para fazer a cobertura
dos principais fatos do interior paulista. Mas, se alguém acha que aqui no
interior reina a tranquilidade, e a violência está presente apenas nas capitais
ou em um estado específico, engana-se. Há mais coisas entre o céu e as ruas do
interior do que podemos sonhar. A selvageria recrudesceu e tem mostrado suas
diversas facetas por aqui há muito tempo.
Uma das coberturas marcantes para o autor foi, sem
dúvida, a da rebelião na Fundação Casa de Marília em 2016. Um agente foi
assassinado no dia em que completava cinquenta e um anos, e dezoito internos
fugiram. Difícil não se comover com tal notícia triste e inominável. Contudo,
Ramon provou seu profissionalismo, escrevendo a matéria para a Folha de São Paulo.
Outra cobertura anterior talvez até mais marcante e
assustadora para o autor, pois o inspirou na concepção desta obra, ocorreu
quando ele havia acabado de se mudar para Marília. De janeiro a outubro de
1999, cinquenta veículos foram incendiados em sua nova cidade. Sete em apenas
uma noite. O autor dos crimes, um vigia noturno, foi preso quando — num momento
de solidão ou de busca pela fama — fez uma ligação para a polícia, anunciando o
próximo ataque. Depois de sua prisão, fichários com nomes dos clientes do vigia
e dois frascos com álcool foram encontrados, e o incendiário, como ficou
conhecido, confessou o ataque a trinta e nove veículos. Ele foi condenado a
quatro anos de prisão em regime fechado e a catorze meses de detenção em regime
semiaberto.
Sem dúvida, com tanta experiência, podemos afirmar que
Ramon conhece como ninguém as vicissitudes das cidades interioranas. E foi
diante dessa realidade que A Próxima
Colombina nasceu. O autor objetivou retratar o tradicional carnaval,
outrora muito famoso aqui no interior, e pôr em foco a violência urbana, sobretudo
contra as mulheres. Trata-se de um tema atualíssimo que colabora enormemente
com a verossimilhança desta trama, ou seja, é uma ficção que poderia muito bem
ter acontecido.
Em uma entrevista que fiz com o Ramon, perguntei o que
o leitor pode encontrar no seu livro. E ele me respondeu:
“Acredito que um enredo empolgante, uma trama que dá
aquele friozinho na barriga a cada página. Digo isso porque foi exatamente
assim que escrevi este livro, transmitindo suspense a cada parágrafo. Como lhe
contei, quando escrevi este livro ainda não tinha filhos e me sobrava tempo nos
finais de semana e nas madrugadas. Por diversas vezes, minha esposa me
assustava, não porque ela queria, é que eu estava tão envolvido em criar uma atmosfera
de medo, de perseguição e até de violência que não me dava conta de que a Ieda
[sua esposa] estava em pé ao meu lado me chamando para ir dormir.”
Este romance policial começa com um homem fantasiado
de pierrô seduzindo uma foliona durante o carnaval. O que parecia ser apenas
mais um caso amoroso se transforma em uma perseguição mortal. Em seguida, mais
três mulheres também sofrem nas mãos do assassino mascarado. Fica evidente o
descaso da polícia, que, por falta de recursos e boa vontade, só vai reagir
muito tempo depois. É nesse momento que entra em cena o delegado Lúcio, um
herói extremamente humano, cheio de medos e sofrimentos psicológicos por causa
do trabalho. Ele tinha a pena de cobrir todos os casos policiais por ter
enfrentado um delegado corrupto.
As personagens são bem arquitetadas, e, assim como no
mundo real, ninguém é totalmente mau nem totalmente bom. A escolha de seus
nomes também não é aleatória. Ramon, de fato, teve cuidado com cada pormenor.
Por exemplo, Lúcio lembra o substantivo lucidez e o verbo elucidar, afinal é
ele quem vai elucidar o caso.
O enredo também homenageia a literatura portuguesa e
universal com inúmeros intertextos, instando o leitor a querer conhecer outros
livros e a saciar sua vontade por mais aventuras.
Eu pude trabalhar esta obra por dois anos consecutivos
com o 8º Ano do Colégio Alpha de Quatá. E o resultado não poderia ser melhor.
Meu maior objetivo como professor de língua portuguesa do ensino fundamental é
despertar o prazer pela leitura nos meus alunos. E este livro provou ser uma
ótima ferramenta. A aceitação foi muito boa. Cansei de ouvir os alunos dizendo
que leram muito rápido — em um dia até! — porque ficaram entretidos com o
enredo e precisavam saber o que ia acontecer em seguida. Prova de que eles
foram enfeitiçados pelo maravilhoso mundo da literatura.
Agora, muito merecidamente, A Próxima Colombina ganha a segunda edição. E torcemos para que
esta obra continue seguindo sua missão de entreter e encantar os leitores,
fazendo-os refletir sobre nossa realidade.