sábado, 14 de maio de 2016

Não, não nos livramos da presidenta

(artigo publicado no jornal A Semana - 14/05/2016)

Apesar de a senhora Dilma Rousseff ter sido afastada da presidência nesta semana, o vocábulo presidenta não será banido do dicionário. É verdade que Dilma, em seu governo, provou ser muito criativa ao improvisar nos discursos: inventou as “mulheres sapiens”, saudou a mandioca e quis até estocar vento. Esses e outros pronunciamentos foram extremamente profícuos para os humoristas e a população em geral se divertirem. Além disso, a ex-guerrilheira colaborou — e muito — para o surgimento dos neologismos “petrolão”, que dispensa apresentações, e “pedalada fiscal”, termo engenhosamente cunhado para explicar a manipulação igualmente engenhosa das contas públicas.
Contudo, ela não criou o vocábulo presidenta. Ela apenas preteriu a opção “a presidente”, muito mais usual, buscando, talvez, uma diferenciação ou algum mérito no título de ser a primeira mulher a ocupar o cargo que ela, infelizmente, provou não merecer. Conforme o dicionário Houaiss, presidenta existe desde 1872. E o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras também o registra, embora não indique o significado nem a origem.

No entanto, porque a língua portuguesa é viva e dinâmica e porque Dilma sai do governo com uma imagem desgastada, atingindo altos índices de reprovação, a palavra presidenta pode cair no ostracismo ou — pior — adquirir uma conotação negativa. Mas isso é uma tendência, e só o tempo confirmará.