sábado, 14 de setembro de 2019

Prefácio do livro "A próxima Colombina"


Prefácio à segunda edição


Ramon é um repórter muito competente que conhece as exigências de sua profissão. Ele sabe que precisa gastar a sola do sapato e frequentar as ruas, as delegacias e os hospitais, dentre outros lugares, para conhecer os moradores e suas histórias. É assim que, desde os dezesseis anos, como um verdadeiro detetive, ele colhe o material necessário para fazer a cobertura dos principais fatos do interior paulista. Mas, se alguém acha que aqui no interior reina a tranquilidade, e a violência está presente apenas nas capitais ou em um estado específico, engana-se. Há mais coisas entre o céu e as ruas do interior do que podemos sonhar. A selvageria recrudesceu e tem mostrado suas diversas facetas por aqui há muito tempo.
Uma das coberturas marcantes para o autor foi, sem dúvida, a da rebelião na Fundação Casa de Marília em 2016. Um agente foi assassinado no dia em que completava cinquenta e um anos, e dezoito internos fugiram. Difícil não se comover com tal notícia triste e inominável. Contudo, Ramon provou seu profissionalismo, escrevendo a matéria para a Folha de São Paulo.
Outra cobertura anterior talvez até mais marcante e assustadora para o autor, pois o inspirou na concepção desta obra, ocorreu quando ele havia acabado de se mudar para Marília. De janeiro a outubro de 1999, cinquenta veículos foram incendiados em sua nova cidade. Sete em apenas uma noite. O autor dos crimes, um vigia noturno, foi preso quando — num momento de solidão ou de busca pela fama — fez uma ligação para a polícia, anunciando o próximo ataque. Depois de sua prisão, fichários com nomes dos clientes do vigia e dois frascos com álcool foram encontrados, e o incendiário, como ficou conhecido, confessou o ataque a trinta e nove veículos. Ele foi condenado a quatro anos de prisão em regime fechado e a catorze meses de detenção em regime semiaberto.


Sem dúvida, com tanta experiência, podemos afirmar que Ramon conhece como ninguém as vicissitudes das cidades interioranas. E foi diante dessa realidade que A Próxima Colombina nasceu. O autor objetivou retratar o tradicional carnaval, outrora muito famoso aqui no interior, e pôr em foco a violência urbana, sobretudo contra as mulheres. Trata-se de um tema atualíssimo que colabora enormemente com a verossimilhança desta trama, ou seja, é uma ficção que poderia muito bem ter acontecido.
Em uma entrevista que fiz com o Ramon, perguntei o que o leitor pode encontrar no seu livro. E ele me respondeu:
“Acredito que um enredo empolgante, uma trama que dá aquele friozinho na barriga a cada página. Digo isso porque foi exatamente assim que escrevi este livro, transmitindo suspense a cada parágrafo. Como lhe contei, quando escrevi este livro ainda não tinha filhos e me sobrava tempo nos finais de semana e nas madrugadas. Por diversas vezes, minha esposa me assustava, não porque ela queria, é que eu estava tão envolvido em criar uma atmosfera de medo, de perseguição e até de violência que não me dava conta de que a Ieda [sua esposa] estava em pé ao meu lado me chamando para ir dormir.”
Este romance policial começa com um homem fantasiado de pierrô seduzindo uma foliona durante o carnaval. O que parecia ser apenas mais um caso amoroso se transforma em uma perseguição mortal. Em seguida, mais três mulheres também sofrem nas mãos do assassino mascarado. Fica evidente o descaso da polícia, que, por falta de recursos e boa vontade, só vai reagir muito tempo depois. É nesse momento que entra em cena o delegado Lúcio, um herói extremamente humano, cheio de medos e sofrimentos psicológicos por causa do trabalho. Ele tinha a pena de cobrir todos os casos policiais por ter enfrentado um delegado corrupto.
As personagens são bem arquitetadas, e, assim como no mundo real, ninguém é totalmente mau nem totalmente bom. A escolha de seus nomes também não é aleatória. Ramon, de fato, teve cuidado com cada pormenor. Por exemplo, Lúcio lembra o substantivo lucidez e o verbo elucidar, afinal é ele quem vai elucidar o caso.
O enredo também homenageia a literatura portuguesa e universal com inúmeros intertextos, instando o leitor a querer conhecer outros livros e a saciar sua vontade por mais aventuras.
Eu pude trabalhar esta obra por dois anos consecutivos com o 8º Ano do Colégio Alpha de Quatá. E o resultado não poderia ser melhor. Meu maior objetivo como professor de língua portuguesa do ensino fundamental é despertar o prazer pela leitura nos meus alunos. E este livro provou ser uma ótima ferramenta. A aceitação foi muito boa. Cansei de ouvir os alunos dizendo que leram muito rápido — em um dia até! — porque ficaram entretidos com o enredo e precisavam saber o que ia acontecer em seguida. Prova de que eles foram enfeitiçados pelo maravilhoso mundo da literatura.
Agora, muito merecidamente, A Próxima Colombina ganha a segunda edição. E torcemos para que esta obra continue seguindo sua missão de entreter e encantar os leitores, fazendo-os refletir sobre nossa realidade.